já só me recordo
entre raios de sanidade
sempre que acordo
procuro a minha identidade
lembro a crueldade infantil
recordo a traição juvenil
evoco a afirmação adolescente
para esconder o passado recente
de tantos amigos que fiz
a nenhum resisti
porque a memória me diz
de todos eu desisti
aos amores eu me dei
sempre louco de paixão
esses eu guardei
como imagem de ilusão
resta esta solidão
amarga na boca
solta da mão
gesto de louca
parte solta
procura em vão
quantos virão
quantos se vão
resisto inerte
sem reação
penso sem pensar
vivo a pairar
resta-me entreter
até a noite chegar
canço a mente sem parar
luto para não me entregar
em cada noite de luar
tenho a esperança de voltar
não sei quem será
nem de onde virá
aguardo com calma
a chegada dessa alma